segunda-feira, 23 de abril de 2012

Automóveis e bicicletas - parte 2

Recebi inúmeros e-mails de ciclistas indignados pela minha crônica anterior sobre a convivência pacífica entre bicicletas e automóveis nas vias de grande trânsito, como se eu fosse contra as bicicletas. Na verdade sou contra a morte de ciclistas, coisa que vemos, infelizmente, com grande frequência nas grandes cidades. Reitero minha posição de que deve haver um espaço separado para as bicicletas que evite uma colisão por imprudência de um ou outro.
Não vejo como uma lei que estabeleça uma distância mínima de 1,5m possa ser respeitada, pois inúmeras vezes um ciclista nem é visto quando está ao lado de um veículo grande. Sabemos que nosso trânsito é caótico, que não temos um adequado sistema de transporte público e que nossos motoristas, em geral, não têm uma educação exemplar. No complicado trânsito de uma grande cidade, a bicicleta será sempre o lado mais fraco. Imaginem uma avenida Marginal qualquer do rio Pinheiros ou Tietê, em São Paulo, cheia de bicicletas andando com os carros.
Alguém, em sã consciência, acredita realmente que não irão ocorrer acidentes? Volto a dizer, imaginem uma cidade onde não existam calçadas para pedestres e que existam leis dizendo que os carros devem andar a uma distância mínima do pedestre. Dá para imaginar uma convivência pacífica e sem um grande número de atropelamentos? É muita conversa mole, meus amigos. É muita politicagem de quem quer ficar de bem com todos e diz o que as pessoas querem ouvir. Quando alguém põe o dedo na ferida, não gostam, porque dói. Mas devemos lembrar que dói não por causa do dedo e sim porque existe uma ferida aberta.
Sou pai de ciclistas, que não se aventuram a andar em uma avenida de grande trânsito, pois reconhecem o perigo real e têm amor à vida. Quando existir uma forma segura, bem delimitada e separada para os ciclistas, será diferente. Devemos brigar para que essas vias existam, assim como devemos exigir do poder público um sistema de transporte de massa adequado.
Até lá, pegar uma bicicleta e se aventurar no meio de milhares de carros, ônibus e caminhões, será uma aventura que, muitas vezes, terá um final trágico, e não adianta depois do acidente consumado falar que a culpa é deste ou daquele. Uma vida se foi e, nesta hora, discursos e atos de protesto não a trarão de volta.(Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete Portas, Ariane, e o seu mais recente A Palavra Perdida. Saiba mais em http://www.celiopezza.com/)

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