O mercado brasileiro perde entre 5% e 10% com a pirataria e a falsificação de autopeças, presente hoje em todo o País. Segundo dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), o volume anual da falsificação e do contrabando de autopeças no Brasil chega a R$ 3,5 bilhões. Isso sem adicionar as peças de baixa qualidade, fabricadas sem atender qualquer requisito ou norma de qualidade. A invasão de peças não prejudica somente a economia e os fabricantes nacionais ou estrangeiros que atuam regularmente, mas o motorista, que tem sua segurança comprometida.
Assim como as peças originais, os componentes para reposição são produzidos dentro dos requisitos das montadoras, atendendo às normas e especificações de qualidade internacionais para atender às demandas e criticidades do veículo. Para fornecer à indústria automobilística, as empresas devem seguir a rigorosos processos de qualidade e terem certificação.
A pirataria e a falsificação permitem a entrada de produtos que não possuem nenhum critério de qualidade e podem colocar em risco a segurança de motoristas e passageiros.
As peças aplicadas no veículo, quando é necessário fazer a substituição, devem ter a mesma qualidade e características da original que veio de fábrica. Este é um item muito importante para que o reparo seja bem feito.
Empresas éticas cumprem suas obrigações fiscais, tributárias e trabalhistas, investem em tecnologia e serviços, têm responsabilidade ambiental e social e prestam assistência técnica aos clientes. Utilizam matérias-primas e materiais adequados e, na maioria das vezes, específicos para cada item; adotam processos de manufatura, montagem, qualidade e logística robustos, para que o produto atenda, com segurança e consistência, a todos os requisitos da montadora e do veículo que irá equipar. O seu preço de venda, consequentemente, leva em consideração todos esses fatores.
O consumidor deve então ficar atento para a disparidade de preço. Se há uma grande diferença entre uma peça e outra, desconfie. É difícil encontrarmos no mercado, por exemplo, pneus de marcas conhecidas e modelos semelhantes que tenham preços muito diferentes. Então, o mesmo deve ser aplicado para as outras peças. Outro fator preponderante é a escolha de um mecânico que mereça ser chamado de “o seu mecânico de confiança”. O consumidor deve exigir peças de procedência comprovada. Um bom mecânico sabe fazer essa distinção!
É fundamental que esse mecânico mantenha-se consciente e comprometido com a ética envolvida nessa relação e opte, sempre e sem concessões, por um produto de boa procedência. O produto pirata gera consequências graves, já que tem desgastes prematuros que comprometem diversos sistemas do veículo, causando falhas técnicas e riscos ao seu cliente.
Sobre os impactos na economia, o Brasil saiu de um superávit na balança comercial do setor de autopeças de R$ 2 bilhões em 2000 para um déficit de US$ 2,49 bilhões em 2009. A previsão é que o saldo negativo chegue perto de R$ 4 bilhões neste ano. É claro que devemos incentivar o comércio internacional, não só pela questão econômica, mas também, e principalmente, pelo aprendizado constante que esse comércio nos exige. No entanto, sabemos que essa balança comercial é afetada, também, por produtos de baixa qualidade e procedência duvidosa. Isso sem falar naqueles produtos que entram no País por canais obscuros.
Como não há barreiras quanto à segurança e qualidade, essas peças de baixa qualidade entram no País sem nenhuma restrição. Uma medida legal para combater esta invasão é a certificação compulsória (obrigatória) de itens automotivos ligados, principalmente, à segurança. Hoje, considerando esses itens, apenas pneus e vidros têm certificação obrigatória. A vizinha Argentina, cuja indústria produz perto de um quinto da brasileira, possui regulamento que protege o cidadão e a indústria local. Nós, infelizmente, ainda não temos esse recurso.
Mas o setor de autopeças não está parado! Por meio do Sindipeças, trabalha para que se crie no Brasil uma legislação para estabelecer certificado de conformidade para autopeças fabricadas aqui e em qualquer país. Com a certificação, o problema será reduzido inexoravelmente.
O IQA ( Instituto da Qualidade Automotiva) também trabalha para fomentar e identificar produtos automotivos que devam ter certificação compulsória. Inclusive, uma das missões do Instituto, que completa 15 anos neste ano, é proteger a indústria nacional e, consequentemente, a sociedade, porque o consumidor não possui informação técnica. Por isso, é importante possuir a certificação, que é um reconhecimento público de que a empresa respeita as exigências e padrões de qualidade, o que garante maior proteção ao consumidor.
Aliás, o consumidor é agente fundamental não só para combater a pirataria e a ilegalidade de autopeças, mas para promover a qualidade. Nos últimos anos, o conceito de qualidade evoluiu muito, principalmente depois da abertura do mercado às importações, na década de 1990. Nesta época, o mercado iniciou uma corrida pela qualidade para poder enfrentar a concorrência com os produtos importados. O setor automotivo não só acompanhou como é um reflexo direto dessa evolução, estando hoje alinhado com tudo que acontece mundialmente.
Sabemos que a qualidade neste setor é fundamental e o consumidor dita as regras ao exigir, cada vez mais, excelência no padrão de atendimento e na prestação de serviços. Por isso, ele deve ficar atento sim à procedência do produto, se tem nota fiscal e se a embalagem está em ordem. Também é importante levar o carro em oficinas certificadas e pedir para que ele equipe o carro com peças de procedência e qualidade. Desconfie do preço baixo. Pagar muito menos pode significar um risco enorme para a segurança. Adquirir produtos certificados também é uma saída. Apesar da certificação não ser compulsória para muitos produtos, hoje algumas das boas empresas já buscam a certificação voluntária. Encontrando peças com o selo de certificação, é essa a ser utilizada. O combate à pirataria, falsificação e outras ilegalidades é um ato de cidadania, e clama pela ajuda de todos!(Antônio Carlos Bento é diretor do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva),
(iqa@iqa.org.br)
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