Qual a explicação para que uma Pajero Sport, comprada zero quilômetro, apresente ferrugem avançada e generalizada após apenas cinco meses de uso no asfalto e 1000 quilômetros rodados? Esse é o suposto mistério que, há seis anos, coloca de um lado o aposentado alagoano Edburgo Pedrosa, 84 anos, de Maceió (AL) e, do outro, a gigante multinacional Mitsubishi. Para o consumidor frustrado que desembolsou, em 2003, à vista, o valor de 125 mil reais para desfrutar do conforto de um carro referenciado, robusto e de grande porte, trata-se de um gravíssimo defeito de fabricação provocado por falhas no controle de qualidade a ser reparado pela garantia contratual. Já para a montadora, a acelerada e precoce corrosão recebeu outra justificativa: seria fruto de possíveis agentes externos como a água do mar ou até de um detergente especial usado em lava-jatos – argumento que anularia sua responsabilidade sobre o problema.
Dois laudos técnicos, produzidos por peritos qualificados, tentam solucionar o “enigma” e servem de base para o processo que se arrasta na Justiça desde 2004. Em ambos, fica descartada a hipótese do agente químico externo como a causa da intensa corrosão que atinge, não só toda a parte inferior da Pajero, como também estruturas internas como a armação dos assentos. Além disso, outra conclusão importante dos técnicos é a de que, por mais que o veículo esteja em uso numa cidade litorânea, e por isso, sujeito à maresia, ou que, ainda, o Sr. Edburgo tenha circulado na areia com o automóvel (fato veementemente negado pelo aposentado), o tipo e o grau de oxidação encontrado nas peças é totalmente incompatível com o tempo de uso do veículo na época – principalmente considerando-se o fato de que se trata de um modelo “off-road”, desenvolvido para suportar condições adversas. Nos laudos, fica claro que algumas das peças do veículo submetidas à análise não apresentavam as camadas de proteção necessárias para evitar a corrosão, e que outras as apresentavam de forma não uniforme.
“Além da decepção com o carro, que todos diziam ser de qualidade, o que mais abalou a família foi a maneira como meu pai foi tratado desde o início da questão, quando desconfiaram do que ele estava dizendo”, diz Sandra Pedrosa, que hoje, devido às condições atuais de saúde do Sr. Edburgo, assumiu a tarefa desgastante de reivindicar os direitos do pai. “Na primeira vez em que meu pai levou o carro à concessionária para mostrar o defeito, o chefe da oficina insinuou que ele estava mentindo ou omitindo algum uso inadequado da Pajero para se beneficiar da garantia, o que é um absurdo”, conta. “Desde que o caso foi levado à Justiça, a postura adotada pela Mitsubishi tem sido a de atrasar ao máximo o andamento do processo, utilizando-se de todos os artifícios legais possíveis e chegando até a descumprir ordem judicial sem se preocupar com as consequências”, afirma Sandra. Diante de um dos pedidos de mais prazos, por exemplo, há um despacho expedido pela juíza da vara cível onde o processo tramita que considera que os diversos pedidos de concessão de prazo pela Mitsubishi têm “caráter protelatório”, o que retarda ainda mais o julgamento da ação.
Não é a primeira vez que se tem notícia de abusos produzidos pela montadora na tentativa de ocultar defeitos em seus carros. Em 2000, após uma auditoria feita no Japão por funcionários do Ministério dos Transportes, descobriu-se que a Mitsubishi mantinha arquivadas, em uma sala trancada, todas as reclamações que havia recebido de seus clientes, descumprindo a lei japonesa que obriga as empresas a apresentar ao governo detalhados relatórios dos eventuais defeitos em seus produtos e reclamações recebidas. O fato fez com que, na época, o presidente da Mitsubishi Motors, Katsuhiko Kawasoe, fosse a público admitir que durante vinte anos sua montadora havia escondido os defeitos que apareciam em seus veículos, convocando mais de 800 mil proprietários de automóveis, em diversos países, para retornarem com seus carros para as revendedoras para reparos.
“Ao longo destes seis anos, está claro que estão tentando nos vencer pelo cansaço”, desabafa Sandra. “Temos plena convicção, porém, de que toda nossa família foi profundamente lesada com esta história e não vamos admitir que um caso absurdo como este, de desrespeito ao consumidor, fique por isso mesmo”, diz. Por conta do desenrolar do processo, o Sr. Edburgo até hoje não pode se desfazer da Pajero. Há dois anos, desde que a ferrugem comprometeu peças essenciais para a segurança, ele precisou comprar outro automóvel para se locomover. A caminhonete off-road 4x4 com apenas 40 mil quilômetros rodados fica parada em sua garagem, símbolo diário de sua indignação e também a de seus familiares, que agora lutam para que se faça justiça. (Lis Nunes - a[+]mais comunicação empresarial - www.amaisinformacao.com.br)
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