Com o lançamento da pedra fundamental da fábrica de automóveis Chery, em Jacareí, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, os chineses já estão com os dois pés no Brasil. Chegaram em silêncio, no melhor estilo mineiro, como quem não quer nada - já assisti a esse filme, não faz muito tempo, com Hyundai e Kia.
Enquanto a turma daqui fala muito, planeja isso e aquilo, eles entraram mudos e permanecem calados. Nada contra os orientais, muito pelo contrário. O momento nacional nunca esteve tão aberto e disponível como está agora para receber quem tem competência para se instalar e conhecer novos horizontes. Além disso, ninguém ignora, para o consumidor quanto maior for a concorrência, melhor!
Aliás, competência, em se tratando de automóveis, deve ser traduzida em preço atrativo, em relação custo/benefício que agrade a gregos, troianos e principalmente tupiniquins também. Neste quesito, diga-se de passagem, os carros chineses já engataram uma segunda marcha em relação aos ocidentais. A maioria, com preço normalmente abaixo de R$ 40 mil (incluindo impostos e custos de importação), é equipada com itens difíceis de encontrar em carros brasileiros. É aí que a porca começa a torcer o rabo.
Na contramão daquilo que é óbvio para brasileiros, europeus, americanos, coreanos e japoneses, os chineses não estão nem aí com o retorno dos investimentos. Lucro não é a prioridade, pelo menos agora. Antes, abrem os olhos para a conquista do mercado. Dizem que até 2030 eles querem responder nada mais, nada menos, por um terço das vendas globais de automóveis no Brasil. É carro prá mais de metro!
A guarda do flanco brasileiro ficou aberta quando algum capeta de plantão tanto fez que a galinha dos ovos de ouro da indústria automobilística brasileira - o carro popular, equipado com motor 1.0 – deixou de ser o desjejum preferido do consumidor, para dar lugar ao 1.4 e 1.6 graças a um bem bolado banho de financiamento em até 60 prestações, atrelado a uma ciranda de brindes sem precedentes promovida pelas concessionárias. Só faltou premiar o papagaio da família que comprava um 1.6 zero km.
Era a oportunidade que os chineses aguardavam ansiosamente e lambendo os beiços! Chegou o momento, eles não vacilaram. Agora, Inês é morta e já é longa a fila que começa a ser formada diante do caixão. Depois da Chery, aparecem Geely, JAC, Changan e Great Wall. Neste momento os chineses agradecem o capeta pelo bom trabalho e pelo placar de 1 x 0. Por enquanto... (Percy Faro, jornalista profissional há 38 anos. Especializou-se no setor automotivo há 23 anos, período em que atuou em diversos veículos do segmento específico, entre eles as revistas 4x4, Moto, Oficina Mecânica, O Mecânico e Jornauto. Integrou a equipe que fundou a Revista Carro e foi produtor e apresentador do Programa Carro, da TV Gazeta - SP, e editor do Jornal Veículos, do Diário do Grande ABC. Atualmente escreve no site http://www.coisasdeagora.com.br/) percyfaro@gmail.com
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