O Governo Federal aumentou o IPI dos veículos importados em 30 pontos. Aplicação linear, majora tal imposto entre 120% e 428%. Justificativa, ouvir a voz surda dos metalúrgicos e, claro, os sussurros das maiores montadoras do país em nome de alegada preservação da indústria nacional.
Vamos combinar, imposto de importação em 35%, máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio, é, na prática, proteção à ineficiência. É o carimbo sobre a maioria dos carros nacionais, com pouco desenvolvimento tecnológico, utilizando ou motores, ou plataformas, ou carrocerias antigas em várias combinações.
A barreira da não competitividade permitiu catapultar os preços ao céu, desnudando diferenças indecentes nos mesmos veículos entre a venda no Brasil ou nos mercados de destino quando exportados.
Este enorme delta explica como automóveis coreanos ou chineses, mais atualizados ou equipados que os nacionais, venham do outro lado do mundo, arquem com toda a logística modal de transportes, paguem o imposto de importação e toda a cascata dos demais, inflacionados por este número – e ainda custem igual ou menos que um nacional desequipado.
O Governo, por sisudos ministros da Fazenda, intelectual acadêmico distante da realidade; e os não-eleitos da Indústria e Comércio, matéria de seu desconhecimento; e da Ciência e Tecnologia, irresponsável petista contra o Plano Real; atrapalhado sem explicar o dinheiro dos aloprados favorecendo sua campanha; e mais recentemente defendendo as usinas atômicas quando a Alemanha, dona da tecnologia, avisou de sua desmobilização, explicaram que o aumento é para proteger empregos e incentivar a tecnologia nacional.
Qual é?
Proteger empregos é utopia. Se o país hoje desativa postos de trabalho na indústria, o faz por mudança de tecnologia e pelo uso, em percentual cada vez mais elevado, de peças importadas nos veículos feitos aqui, e pela complementação do portfólio de produtos com outros importados. E por falta de regra de índice de nacionalização a cargo do mesmo governo e ministérios. Naturalmente, peças e carros não feitos aqui, dão emprego fora – aqui, não.
Desenvolver tecnologia parece sonho. Nossa indústria está cada vez menos nacional, tanto pela substituição das peças e conjuntos nacionais por idênticos componentes importados, quanto pela redução das operações industriais para construir veículos. Um festejado neo-industrial, que inunda os meios de comunicação com rios de anúncios tem, em sua fábrica, menos operações industriais que as empresas que aqui montavam veículos há 60 anos – antes da implantação da indústria automobilística nacional. Ou, na prática, dá emprego no país que faz as peças – não onde são aplicadas.
O mesmo Governo Federal, num tal plano Brasil Maior, reduziu o IPI para a mesma indústria em nome do desenvolvimento tecnológico – mas não fixou parâmetros para tal ganho. Dias após, mudou tudo. Aumentou o IPI para proteger a já protegida indústria. Na prática a indústria local não precisa desenvolver tecnologia porque não terá obrigação de faze-lo nem instigação da concorrência.
Consequências
Quem mais perde é o consumidor, em sua capacidade de comparar. O aumento do IPI pode significar até 40% a mais no preço dos importados, reduzindo vendas e presença, em especial nos modelos que incomodam à indústria por conteúdo e preço. Veículos de maior preço, Ferrari, Porsche, Maserati, AMG, tem margem para reduzir e continuar caros. Seu pequeno mercado quantitativo permanecerá, mas a função comparativa não existirá.
Nos demais, sem concorrência, os nacionais subirão injustificadamente de preços, mantendo-se caros e sem equipamentos. A isenção para os feitos nos países com quem o Brasil tem ajustes comerciais, México e Mercosul, deixa claro o foco preciso da medida: cristalizar o mercado para as grandes marcas, Fiat, VW, GM, Ford, Renault, Nissan, Citroën e Peugeot.
Ao contrário do que pensam os ministros envolvidos, desemprego existirá. Começará nas lojas dos importados de menor preço – Hyundai, Kia, JAC, Chery, Suzuki, Subaru, SsanYong, etccc – pois a redução dos negócios forçará a demissão de pessoal de vendas, controle, assistência. E desemprego é desemprego, pouco importa se é na fábrica de auto-peças, na montadora, ou no comércio de veículos. Salários diminuirão pelo excesso de disponibilidade de mão de obra.
José Luiz Gandini, presidente da Kia e da Abeiva, a associação dos importadores sem-fábrica, protesta e promete ir à Justiça reclamar da medida e dos prazos de vigência. Luiz Rosenfeld, presidente da Suzuki, implantando fábrica em Itumbiara, Go, mudou os planos, abrirá o leque de versões do produto, o jipinho Gimni, aumentará a nacionalização – mas desconversa se conseguirá manter funcionando a rede de distribuição, com reduzidíssimas vendas e atendimentos de garantia em oficina.
Jürgen Ziegler, condutor da Mercedes-Benz acha que as medidas poderiam ser melhor dimensionadas: a quem investe no país; ao verdadeiro desenvolvimento tecnológico; ao aumento do índice de nacionalização.
Sérgio Habib, importador dos chineses JAC e criador da enzima que deflagrou este processo com seus carros equipados e baratos, quer saber, como os outros investidores que planejam fábrica locais, como fica o investimento para implantar uma fábrica no Brasil.Enfim, com os importados representando pouco mais de 5% do mercado interno a justificativa oficial para tirar do brasileiro a capacidade de comparar, obrigando-o a comprar carro caro e desequipado é fraca.
Esta medida não tem pé, cabeça ou razão. Ataca o consumidor, garroteia o futuro tecnológico do país, favorece meia dúzia de montadoras. (por Roberto Nasser)
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