Na década de setenta, o governo, frente à crise do petróleo, proibiu a venda de carro de passeio com motor Diesel. Esse período prolongado sem a presença de carros a Diesel no País fez com que as pessoas tivessem do motor Diesel uma imagem errônea, de se tratar de tecnologia ultrapassada, poluidora e barulhenta. Ocorre que nos últimos anos, a eletrônica tem feito verdadeiros milagres no desempenho do veículo Diesel, transformando-o em principal opção de compra da maioria dos habitantes da Europa.Na maior parte do mundo, o consumidor pode escolher na hora da compra, entre um carro a gasolina ou Diesel. Na Argentina, por exemplo, um taxista interessado em um Renault Logan pode optar entre usar gasolina ou Diesel e, provavelmente, escolherá o segundo, apesar de custar mais caro que o primeiro. E por que isso? Falta de informação? Não! Muito ao contrário, é que ele sabe que o custo operacional total por quilômetro rodado é menor. E isso não é somente graças ao desempenho do motor Diesel, que é mais eficiente que os de ciclo Otto (com gasolina, álcool ou GNV). Leva em conta também o valor de revenda, a robustez que leva o carro menos à oficina e o fato de preservar o volume do bagageiro por não precisar dos pesados tanques de GNV. Consequentemente, usuários que percorrem altas quilometragens com o veículo dão preferência aos carros com motor Diesel.Em meados da década de 1990, o mundo começou a olhar com mais atenção aos problemas ambientais e isso deu início a um segundo processo de evolução dos motores a combustão, com características distintas do primeiro movimento que veio com a crise do petróleo, na década de 1970 quando a eletrônica engatinhava e os componentes ainda eram estranhos ao ambiente da engenharia mecânica; essa situação mudou. Não existem mais motores puramente mecânicos. Todos possuem elevada quantidade de componentes eletrônicos. Com a introdução da eletrônica, era chegada a vez dos motores Diesel. A injeção controlada eletronicamente nesse tipo de motor trouxe benefícios tamanhos, como resposta ao pedal, economia e performance como um todo, que se tornou difícil compará-lo com os motores Otto (a gasolina). Isso ocorre porque os motores Diesel não necessitam, por natureza, de um iniciador da queima, não possuem velas de ignição e, com o controle eletrônico, se obtém maior precisão no volume de combustível injetado o que significa, em última análise, maior controle do motor. Além disso, a pressão de injeção é alta (chegando aos 1.800 bar) para melhorar a pulverização e, consequentemente, a combustão, reduzindo a emissão de poluentes.As novas tecnologias permitem ainda injeções múltiplas num único ciclo, o que viabiliza estratégias de redução de ruído e emissões. Adicionalmente, os motores modernos apresentam turbocompressores com geometria variável, intercoolers e estratégias de pós-tratamento de gases de escape por meio de catalisadores e filtros de material particulado.Estas inovações possibilitam hoje que os motores Diesel sejam mais silenciosos, muito menos poluentes e possuam níveis de vibração reduzidos. O quesito prazer de dirigir (fun to drive) foi muito favorecido e o motor possui uma das melhores soluções termodinâmicas para motores de combustão interna, pois tem rendimento mais favorável na conversão de energia e, conseqüentemente, amigável na redução do efeito estufa.Globalmente, em paralelo às evoluções tecnológicas do motor, também o combustível Diesel foi aprimorado. Menor teor de enxofre e de aromáticos, curva de destilação adequada e maior número de cetano são importantes avanços. O Brasil já começa a introduzir essas melhorias no combustível comercial e tem adicionalmente o biodiesel como componente renovável do diesel comercial.Pois bem, os motores Diesel de hoje são muito diferentes dos antigos motores com injeção mecânica, que precisavam ser regulados com maior frequência, eram ruidosos, ásperos e só funcionavam em baixas rotações.A tecnologia do motor Diesel evoluiu tanto que uma das mais tradicionais competições automotivas, a 24 Horas de Le Mans, foi vencida três vezes por um carro a Diesel, o Audi R10 TDI, em 2006, 2007 e 2008. Essa é a prova concreta de que o carro Diesel deixou de ser só mais econômico. Esse conjunto de informações sempre me faz pensar: não estaria na hora de o governo liberar o uso desse tipo de veículo no Brasil? (Vicente Alves Pimenta Junior integra a Comissão Técnica de Tecnologia Diesel da SAE BRASIL)
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