terça-feira, 24 de novembro de 2009

Alta Roda nº 552 — Fernando Calmon — 24/11/09

SÓ MESMO NO BRASIL
Falta de planejamento, jogo de interesses e encarecimento de taxas são os corolários da política tardia de controle de poluição anunciada recentemente pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Todos os Estados e os municípios com frota superior a três milhões de veículos estão obrigados a criar um Programa de Controle de Poluição Veicular (PCPV) e implantá-lo em dois anos e meio, a partir de agora. Apesar da inquestionável importância de um eficiente PCPV, nunca poderia ficar de fora a Inspeção Técnica Veicular (ITV), prevista há mais de 13 anos, e que, obviamente, sempre incluiu a análise simultânea de emissões dos motores. Desde 2001 se arrasta na Câmara dos Deputados o projeto que cria a ITV. Agora, com o anunciado apoio do Governo Federal, parece que há boa chance de aprovação e implantação a partir de 2011. Se houvesse o mínimo de coordenação política, os dois programas deveriam ser implantados em conjunto em respeito ao bom senso. Na maioria das situações, a inspeção de segurança tem alcance econômico-social bem maior para o País. Esses desencontros custarão caro ao bolso dos motoristas, como já acontece no município de São Paulo, onde circula uma frota maior do que a de alguns Estados brasileiros juntos. Numa típica instalação de linhas de inspeção, a parte de emissões responde por apenas 10% da área total. Mesmo que na capital paulista tenha sido previsto local para a ITV nos postos atuais, vai complicar as futuras licitações e a taxa de serviço final para inspeção única será encarecida em torno de 50%. Outro erro grave do Conama: impor a vistoria a todos os veículos a partir do segundo ano de licenciamento, quando, nos 50 países que implantaram a ITV, automóveis são examinados a partir do quarto ano. O argumento de que proprietários podem fazer adulterações não se sustenta. Adaptações de kits flex sem homologação ocorreram há alguns anos, quando havia mais motores a gasolina do que flex novos, e serão fiscalizados naturalmente. Veículos com kit gás, a diesel e motocicletas formam “grupos de risco” e poderiam, no momento, ser enquadrados com rigor proporcional aos problemas potenciais. Na realidade, a perda de tempo e dinheiro dos motoristas obrigados a uma fiscalização desnecessária disfarça um motivo financeiro. As concessionárias preveem grande evasão da frota mais antiga e contam com o faturamento providencial dos veículos seminovos a fim de equilibrar. Até setembro, em São Paulo, só 5% dos automóveis a gasolina ou etanol sofreram desaprovação entre os fabricados entre 2008 e 2003, sendo que a evasão destes não chegou a 20%. Mas continua sob segredo absoluto o índice de reprovação ano a ano, no intuito de esconder a verdade. No entanto, 70% das motocicletas – poluem em média seis vezes mais que automóveis e quase todas ainda usam carburadores suscetíveis a desregulagem – simplesmente ignoraram o PCPV. Serão todas proibidas de circular em 2010? Carros modernos, com recursos eletrônicos e testes de homologação, dificilmente precisam de cuidados especiais antes de quatro anos. Justamente esses estão convocados a pagar a conta. São parte da solução, não do problema. Só mesmo no Brasil.

RODA VIVA

DEPOIS de oito anos praticamente sem mudanças, desde o lançamento em 2001, Doblò recebeu modificações estéticas. Ficou igual ao homólogo italiano que, por infeliz coincidência, está sendo substituído agora na Europa. Versão Adventure (55% das vendas do furgovan), que só existe aqui, ficou melhor sem dúvida. Bem como o interior, agora todo revestido. MOTOR de 1,4 L/86 cv permitiu opção mais barata, que parte de R$ 49.000,00, interessante para uso específico. Na avaliação inicial, em Maceió, capital ao nível do mar e sem quebra-molas para sentir a recuperação após “escalar” o obstáculo, o Doblò mostrou-se apenas aceitável. Em condições normais exige o motor 1,8 l/114 cv, pois é pesado, com muito vidro. EXIGÊNCIAS de menor consumo de combustível para rebaixar emissões de CO2 vão impor nova geração de motores de três cilindros (em alguns casos, dois cilindros). BMW, Fiat, Ford, Mercedes, Nissan, Peugeot-Citroën e VW estão nessa onda. Tomara que consigam conter a forte aspereza inerente ao motor. Fiat, Ford e GM, no Brasil, também já trabalham nessa direção. IMPRENSA argentina revoltou-se com o preço anunciado pela Toyota para o híbrido Prius. Modelo de maior aceitação dessa tecnologia lançada em 1997, chegará em ritmo de conta-gotas ao país vizinho. Mesmo pagando imposto de importação de 35%, custará 80% a mais que o Corolla topo de linha. REUNIDOS em Moscou, 140 países participantes da 1ª Conferência Ministerial Global sobre Segurança Viária aprovaram moção inédita à Organização das Nações Unidas. A proposta é reservar uma década – 2011 a 2020 – para implantar ações em todo o mundo com objetivo de tentar estabilizar e depois reduzir acidentes de trânsito. Iniciativa de grande alcance e merecedora de apoio total. ____________________________________ fernando@calmon.jor.br

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