Resiste quem pode

“Ano novo, vida nova.” Frase conhecida e deveras batida. Novo e nova se fundem, marcham e marcam a existência de muitos. 2010 teve um "início deslizante", desculpe a infeliz analogia. A primeira tragédia, vale lembrar que anunciada, ocorreu em Angra dos Reis na despedida do ano velho para a chegada do ano novo. Os que sofreram com tal acidente, devido à chuva, não sabiam que isto poderia acontecer? Sabiam e a cada dia tinham mais certeza de que isto iria ocorrer. Somente a data não estava marcada, mas quis o destino, e quando ele quer, não tem conversa, que acontecesse no primeiro dia do ano de 2010. Não se sabe quantas pessoas foram vitimadas pelos deslizamentos de terra acontecidos em Ilha Grande. Para “contentar” não sei quem, uma pousada de luxo foi engolida pela lama, galhos e pedras. A poucos metros, a lama, galhos e pedra, engoliram casas simples de locais, que estavam mais cientes que um dia poderia acontecer o que aconteceu. Papai Noel, quando conversei com ele no Natal, me deu um toque sobre o momento em que a natureza atravessa. Se Deus perdoa sempre, o homem de vez em quando e a natureza nunca, aquele ambientalista estava mais do que certo. Quem escapou ileso, Deus perdoou e deu mais uma chance de escolher um local mais seguro para viver, mesmo que a condição de cada um não permita tal escolha. O homem que construiu a pousada de luxo, olhando para o seu próprio umbigo e no retorno financeiro, sem se preocupar com o lugar, não teve a mesma sorte. Deu no que deu. A natureza, não ligou para nenhuma das situações e “descontou” em ricos e pobres. E não adianta reclamar, já que os poderes constituídos e os tais órgãos competentes, pouco se mexeram, mas brigam a todo instante para gerir cidades, estados e país. Dão o sangue, mas não para os hemocentros das grandes cidades que sofrem com a falta dele. Fogos espocaram nos quatro cantos do planeta, mas o barulho e o clarão deles, não acordaram os políticos, que continuaram tomando seus melhores espumantes e saudando a chegada de um 2010 deslizante. Milhões de brasileiros pediram de um tudo para o novo ano que começou hoje. Coisas inatingíveis para a maioria dos pedintes, sem doses grandes de pessimismo. Para aqueles, os ilhéus de Angra, que a lama, galhos e pedras engoliram suas casas e com elas, sonhos de poder viver mais um ano “correndo atrás do prejuízo”, as chances deles foram reduzidas a zero. Aos da pousada de luxo, a natureza deu igual tratamento, mesmo que estivessem curtindo a passagem de ano e arquitetando planos para uma próxima viagem. Viver é uma brincadeira muito séria. Resiste quem pode. (Orestes Moquenco)