terça-feira, 13 de abril de 2010

Competitividade e custo do aço agitam cadeia de produção automotiva

A maioria dos participantes do Fórum da Indústria Automobilística, dia 12 de abril no Hotel Sheraton WTC, em São Paulo, alertou que o governo e entidades do setor devem liderar a elaboração de um projeto de competitividade para a indústria automobilística brasileira, diante da crescente invasão de produtos importados. O tema esteve em debate em palestras e painéis no evento, organizado pela Automotive Business. Jackson Schneider, presidente da Anfavea, enfatizou durante o encontro que um programa desta natureza não deve abranger apenas um segmento como o automotivo, mas se estender para outras áreas da indústria e da economia. Um dos pontos que mais chamaram a atenção no fórum foi a evolução dos preços do minério de ferro e do carvão, que afetam diretamente o custo de produção do aço e dos automóveis. Octávio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, explicou que o minério de ferro representa 12% do custo de produção do aço e este ano deve ter o preço elevado em 90%. Como conseqüência, o custo dos carros deve avançar 7,8%.Sérgio Leite de Andrade, vice-presidente de negócios da Usiminas, não confirmou índices de reajustes durante a palestra que proferiu, mas antecipou que os executivos de sua área passarão a negociar novas bases para o fornecimento do aço. Os preços devem variar para cada cliente, em função de volumes e condições de entrega. Andrade confirmou, ainda, que os reajustes no preço do minério de ferro passam a ser trimestrais, tornando difícil prever o comportamento das negociações ao longo da cadeia de produção e distribuição do aço. Letícia Costa, sócia-diretora da Prada Assessoria, também enfatizou a falta de previsibilidade no comportamento dos preços pelos players da cadeia de produção. Paulo Butori, presidente do Sindipeças, admitiu que os associados da entidade já negociam aumentos de 12%, na média. Preços novos estão sendo praticados pelas distribuidoras, que atendem as pequenas e médias empresas do setor. “Temos dificuldade em repassar esses custos às montadoras” – revelou o executivo durante o evento, lembrando que essa situação se repetiu ao longo dos últimos anos. Arnaldo Meschnark, presidente do Sindiforja, disse que os aumentos do aço representam um fator adicional na redução da competitividade das empresas locais, junto com a relação cambial e o custo Brasil. "A soma de tudo isso não estimula investimentos no setor" -- disse, lembrando que o aço representa até 60% do custo das peças forjadas. Diretores de compras das principais montadoras disseram que não é possível antecipar o impacto final do aumento do aço sobre o preço dos carros. O presidente da Anfavea, no entanto, registrou que o repasse será inevitável. Schneider confirmou as projeções da entidade para o setor automotivo em 2010, com um avanço de 6,5% da produção de autoveículos, para 3,39 milhões de unidades, e emplacamento de 3,4 milhões de unidades (crescimento de 8,2% em relação a 2009).
Compras - O Grupo Fiat adiantou que investirá R$ 14 bilhões em compras no Brasil este ano para alimentar a montagem de automóveis, caminhões, máquinas agrícolas e motores. A GM promete comprar R$ 9 bilhões. A Ford não abriu a cifra, mas adiantou que as compras terão alta de 10% em relação a 2009, mesma estimativa da Volkswagen. Em painel de debates sobre a cadeia de suprimentos os diretores responsáveis pelas compras da Ford, GM, Volkswagen e Fiat disseram esperar que seus fornecedores acompanhem os investimentos das montadoras para ampliar capacidade e atender a demanda. João Pimentel, da Ford, destacou que o volume de produção estimado para este ano ainda não preocupa a empresa. O executivo acredita que a cadeia precisa movimentar-se e ficar preparada para a expansão prevista para os próximos anos. "Estamos nos alinhando com os fornecedores para acompanhar este ritmo", conta. A Volkswagen espera que seus parceiros caminhem ao lado da montadora, mas enxerga na Argentina uma solução para o caso de falta de capacidade local. Segundo Alexander Seitz, vice-presidente de compras para a América do Sul, a preferência da empresa é concentrar a operação localmente, mas, se não for possível, o país vizinho pode ser uma solução. Osias Galantine, do Grupo Fiat, enfatizou que a empresa incentiva a cadeia de fornecedores a importar itens de baixo custo logístico e alto valor agregado: “Temos que aproveitar o câmbio, olhar para as oportunidades”, frisou, ressaltando que é preciso valorizar o suprimento local como primeira alternativa. A posição foi confirmada por Johnny Saldanha, vice-presidente de compras globais da GM. Pesquisa - Embora 92% dos executivos de montadoras e seus fornecedores peçam um projeto de competitividade para o Brasil, eles se dividiram ao responder se a atual redução de 40% nas alíquotas de importação de autopeças deve ser revogada. Para 67,3% a iniciativa é boa e pode dar fôlego aos fabricantes locais de componentes enquanto buscam fórmulas para melhorar a competitividade. Já os demais 32,7% não concordam, justificando que a redução corresponde a uma medida de proteção que acomodará a cadeia de produção.Para os 473 participantes do evento o Brasil avança para montar mais e produzir menos componentes e sistemas automotivos. Dos consultados, 11,8% afirmam que essa é uma tendência firme; outros 59,1% acham que é possível reverter a tendência e 29,1% acreditam que a indústria local tem força para resistir às importações e estimular a produção local.Segundo a pesquisa, 85,5% dos consultados apostam que as importações de veículos este ano irão superar as exportações, justificando as preocupações do setor automotivo com a perda de competitividade diante de fabricantes estrangeiros.

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