sexta-feira, 9 de julho de 2010

A FORÇA DE UM TOQUE

Se existe algo difícil de reproduzir em laboratório é a sensação de tato associado à qualidade. No entanto, a indústria se esforça ao máximo para impressionar os clientes de seus produtos nesse campo. Afinal, o trânsito obriga motorista e ocupantes a interagirem com partes, peças, comandos e revestimentos internos dia após dia. O toque humano é altamente subjetivo e complexo. Assim, por décadas os projetistas de interiores dependeram de informações de usuários sobre aspecto visual e táctil para decidir sobre o que agradava a maioria. Os resultados não eram científicos e nem sempre atendiam as expectativas. A saída veio de iniciativa pioneira da engenharia da Ford alemã. Modificaram um robô – desses comuns que empacotam produtos de consumo no final da linha de montagem – para propósitos específicos. Por meio dele foi possível refinar vários pontos de contato no interior do carro, no intuito de atingir uma larga faixa de preferências quanto a superfícies, acabamentos e botões. O robô recebeu o nome feminino Ruth (Robotized Unit for Tactility and Haptics, algo como Unidade Robotizada para Tateabilidade e Sensações). Tal máquina consegue uma abordagem tridimensional e científica do tato. Atrito, força, aspereza, suavidade e temperatura são alguns dos parâmetros captados em todo o interior do veículo. As medições são, então, comparadas às sensações e aparências indicadas por consumidores exigentes. Ruth apresenta vantagens sobre os humanos por sua elevada resolução perceptiva. O robô pode medir a resistência ao puxar ou girar botões com grande precisão, evitando frouxidão ou dureza, além de permitir uniformizar as sensações. Consegue reproduzir exatamente os movimentos mais complexos das pessoas ao ajustar saídas de ar ou utilizar comandos. Os sistemas tradicionais só conseguem fazer medições lineares ou de rotação. Também se estuda a textura das superfícies de painel, volante de direção, consoles, apoios de braço e laterais, tendo como alvo a melhor referência indicada por usuários. Tomar a temperatura dos componentes ajuda na escolha de materiais. Um botão metálico pintado, por exemplo, pode passar a sensação de frieza, enquanto uma peça em madeira ou similar traria conforto térmico e percepção de alta qualidade. Também se mede o espaço entre as peças para harmonizar o desenho e evitar interferências no uso contínuo. Outra facilidade é indicar aos fornecedores de componentes a suavidade superficial exata, baseada em curvas de dados calculadas pelo robô. Isso praticamente acaba com os envios seguidos de amostras para análise e aprovação dos projetistas, pois se substitui a subjetividade por referências objetivas. Há ganho substancial no tempo de desenvolvimento do produto porque essa é uma fase demorada e antes sujeita a atrasos. Avaliar precisamente o toque humano e as suas melhores sensações pessoais permite oferecer interiores com maior percepção de qualidade por parte do cliente, mesmo em automóveis que não são tão caros, agregando valor tangível. Acima de tudo, Ruth descarta o trabalho de adivinhação ou de tentativa e erro, substituindo-o por dados científicos confiáveis com possibilidade muito menor de desagradar motorista e passageiros. (Fernando Calmon)

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