quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“Um dia na vida de uma concessionária”

Cliente tem sempre razão? Que pergunta óbvia. Claro que não. Cliente é chato, exigente. Só porque ele está pagando pelos serviços do carro, acha que tem direito a reclamar. Eu, hein?
O cliente deveria trocar de lugar com os vendedores e com os mecânicos. Só assim, ele ia perceber como ele é chato e rabugento.
Outro dia, um cliente ficou esbravejando porque o carro foi entregue só com 45 minutos de atraso. Isso foi motivo de reclamação junto à montadora, ao chefe da concessionária. Vocês acham que as reclamações pararam aí? Que nada!
Reclamou do volante sujo, reclamou do carro sujo. Mas quem mandou comprar carro preto… suja mesmo, até por dentro.
E podem acreditar, o carro estava sujo porque a concessionária fez todos os serviços e testes de rua recomendados pela montadora. Isso sim é coisa de gente séria. E imaginem, fomos até, além disso. Trocamos as pastilhas de freio, que ainda davam para rodar uns 10 mil km, para garantir a segurança do cliente. E ele reclamou, só porque ninguém pediu sua autorização. Tem dó. Eta cliente chato!
Querem ver sobre o que mais ele reclamou? Sobre a funilaria do para lama, dizendo que a pintura estava empipocada. Bom aí a gente não pode fazer nada. O patrão terceirizou o serviço de funilaria e pintura, então a responsabilidade não é da concessionária. Está bem, o cliente não sabia, mas agora sabe, pronto!
Ainda bem que ele já foi embora. Ele disse que não voltava mais aqui. Ele não sabe o que está perdendo. Mas é só um cliente. Que diferença faz para quem tantos? E olha que a gente ainda fez o favor de assinar a Ordem de Serviço por ele. Assim ele não perdia tempo.
Ah, tem também a história daquela moça que comprou um carro novinho. Daqueles caros , sabe? Não é que o carro quebrou na primeira semana? Precisa ver como ela ficou brava, só porque o carro dela ficou parado 15 dias, por falta de peça. Na verdade, foi a concessionária que pediu errado, mas mesmo assim fizemos tudo para atendê-la. Toda vez que ela ligava para saber do carro, atendíamos com a maior educação: ”Tá pronto não. Liga amanhã”. E sabem o que aconteceu? Logo depois que entregamos o carro, ela vendeu. Essa moça não deve ser muito equilibrada. Vender um carrão desses só porque quebrou na primeira semana e aí ficou 15 dias parados?
O engraçado que essa cliente disse que não compraria mais dessa marca e muito menos usaria essa concessionária. Mas não tem problema. Temos tantos clientes, que perder mais um não vai fazer falta. Pelo menos a gente fica livre dessa gente chata!!!!!!
E aquele que comprou um carro seminovo? Ah, esse foi complicado. Ele levou o caso para o Procon e usou uma tal de internet para falar da nossa concessionária. Mas não dá para entender esse cliente. Ele comprou um carro bonitão, daqueles antigos sabe?. Era um seminovo com 100 mil km, mas estava inteiraço. Porém a seguradora não acreditou que o carro estava ótimo e não quis fazer seguro. Disse que o carro era batido, que a quilometragem não correspondia ao que marcava no odometro. Tudo isso porque acharam no fundo do porta-luvas uma etiqueta de óleo que dizia próxima troca aos 135 mil km. Esse cliente quis trocar o carro ou o seu dinheiro de volta, com juros, acreditem. Mas aqui não é supermercado para fazer troca e como iríamos devolver o dinheiro se ele já tinha pago a vista. Não podemos nos responsabilizar pelos donos de veículos que nos revendem o carro. Quem garante que não foi o antigo proprietário que mudou a quilometragem? Nós sempre acreditamos nos clientes, foi isso que o meu patrão ensinou.
Mas “bicho”, esse troço trouxe tanta propaganda para nós. O patrão disse que aparecemos no tal de Facebook, do ReclameAqui, Orkut. Olha como falaram da gente. Só não entendi pórque o patrão estava nervoso. Não é sempre ele que diz que a propaganda é alma do negócio? E que a melhor propaganda é o boca-a-boca? Então…
Eu notei de algum tempo para cá as vendas caíram, que as passagens pela oficina diminuíram. Mas deve ser porque o pessoal voltou de férias e já fez as revisões antes. Além do mais vendemos tantos carros antes, que essa queda não faz diferença. Além do que os clientes não trocam de carro só porque já se passaram dois anos. E como nossa concessionária é ótima, daqui a pouco tudo volta ao normal, inclusive com os clientes chatos e rabujentos.
E a história termina aqui com a frase “era uma vez uma concessionária”…. (publicado em 14/10/2011 por Fiorella Fatio)

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