sábado, 7 de julho de 2012

Tudo o que você queria saber sobre automóveis e tinha vergonha de perguntar
Tipos básicos de carrocerias V: Notchbacks (Três Volumes)
Continuando nossa série sobre os tipos básicos de carroceria, mostrarei a evolução do modelo de carroceria conhecido aqui como sedã, notchback nos EUA ou simplesmente três volumes de duas e quatro portas. Abrange também modelos coupés, sem carroceria fastback com duas portas. Lembre que para definir o que é um coupé de um sedã, é só ver o caráter do carro: Se for um desenho pacato, mais retilíneo e conservador e de desenho mais prático é um sedã. O espaço para os passageiros de trás conta, independente do número de portas. Um bom exemplo é o Opel Rekord, que tinha versões perua, sedã de 4 e 2 portas e uma versão fastback, que na versão brasileira que trocava o motor 4 em linha da Opel pelo Stovebolt 6 em linha do Impala (OPel com motor de impALA, saca?) a versão sedã de duas portas nunca foi fabricada, sendo preterida pela fastback. Na linha do irmão menor Chevette, Opel Kadet na Europa e o mesmo nome do brasileiro na versão Vauxhall, o duas portas era predominante devido ao gosto da época influenciado pelo Fusca apesar de ter opção pelas mais práticas 4 portas, depois veio o hactback, a perua e teve até uma versão pick-up apreciada tardiamente por aqui pela tração traseira, mas uma bonita versão fastback disponível na Europa e Austrália que foi preterida por aqui. O coupé costuma apresentar um desenho de caráter mais esportivo, com linhas mais provocantes. Um bom exemplo é o Mustang de 64 que tinha carrocerias coupé de três volumes, conversível e posteriormente uma versão fastback. Os sedãs tem linhas mais conservadoras e práticas e o destaque é o terceiro volume destacado na parte de trás. 
Se você for um leitor atento, perceberá que não escrevi "porta-malas" para me referir ao terceiro volume. Há excessões, como o VW 1600, o Chevrolet Corvair, dentre outros que tinham motor traseiro, em vez da colocação usual no compartimento dianteiro como forma de diminuir custos e eliminar o pesado eixo cardã, transferindo o porta-malas para a dianteira.
No tempo das carroças, não havia uma preocupação em levar a bagagem em viagens. Simplesmente se pegavam as malas e as jogavam em compartimentos de cargas. Algumas carruagens para passageiros reservavam um lugar acima do teto para as bagagens de seus passageiros, e assim como o condutor, ficavam à mercê do clima. Com a chegada da "carruagem sem carroça" essa falta de preocupação continuava inexistente nos primeiros anos. Tanto que o cliente que comprava um coupé escolhia se queria um compartimento para a carga ou um banco adicional que aqui seria conhecido como o "banco da sogra".
Em alguns veículos havia uma adaptação em que aumentava a distância do para-choque traseiro em relação à carroceria, onde o condutor amarrava um baú na traseira. Em outros um bagageiro improvisado era colocado na traseira do veículo, onde as malas eram amarradas. Eram soluções pouco práticas. Nos anos 30 o compartimento de carga ganhava destaque nas propaganda dos novos modelos que começavam a adotavam as novas linhas "streamliners" e junto com elas um compartimento de bagagem que era acessado por cima ou rebatendo os bancos traseiros. Logo o compartimento ganhou uma porta exclusiva de acesso, facilitando a carga e descarga de malas. Um dos modelos que usou o termo "notchback" pela primeira vez foi o Cadillac 60, que já tinha um porta-malas mais saliente enquanto a concorrência ainda apostava no formato fastback. Até o começo da Segunda Guerra Mundial, os fabricantes faziam diferentes tipos de configuração de carrocerias que recebiam nomes como Phaeton, Landaulette, Touring dependendo do formato e número de lugares e esperavam que seus modelos não fossem extintos pelo darwinismo mercadológico.
No pós-guerra os modelos "notchback" tomaram de assalto a preferência do consumidos e reinaram até mais ou menos no meio dos anos 60. Nesse período, de 1946 a 1959, os temas aeronáuticos começaram a influenciar os desenhos até atingir o clímax em 1959 com as enormes aletas com mais de um metro de altura do Cadillac Eldorado. Essa influência estilística perdurou mais alguns anos em outros mercados, enquanto nos EUA a sobriedade tomou conta. Nos anos 70 os carros começaram a ficar com desenho cada vez mais retilíneo, tanto na Europa influenciada pela escola de estilo "dobradura de papel" de Giugiaro (Ital Design responsável pelo desenho de carros como Audi 80/VW Passat, Fiat Uno, Palio Fase II e III e Punto/Grand Punto) e nos EUA que adotavam desenhos cada vez mais retilíneos à medida que as sucessivas crises de petróleo e as exigências das seguradoras eliminavam os rococós estilísticos e os consumidores exigiam carros mais racionais, especialmente após a invasão japonesa.
Nos anos 90 as fomas quadradas foram dando lugar aos poucos à fomas mais suaves e arredondadas enquanto os faróis foram se afilando cada vez mais. O porta-malas ganha mais destaque, especialmente nos compactos e subcompactos que para ganharem mais capacidade diminuem a altura da vigia traseira ao ficarem cada vez mais altos. Os desenhos arrendondados tiveram seu auge no fim dos anos 90 especialmente com a "ovalização" que a Ford impôs aos seus produtos, e aos poucos estão voltando a ficar mais retilíneos, sem os exageros da "dobradura de papel", mas o terceiro volume está cada vez mais discreto nos novos sedans e embutido na carroceria abaixo de grossas colunas "C", especialmente os compactos que agora adotam entre-eixo de médios como o pioneiro Dácia/Renault Logan que sete anos depois está para ganhar uma nova geração e ver a concorrência aumentar com o surgimento dos "low-cost", ou carros para países "em desenvolvimento" que preferem a praticidade de um três volumes. 
Na próxima coluna abordaremos os utilitários, inté.
Carros da Chrysler em catálogo de 1926, acima a Touring e abaixo a Roadster. Apesar da versão Touring levar mais passageiros, não havia preocupação com as bagagens já que o deslocamento era feito por outros meios de transporte como trens, barcos e a nova indústria aerea.
Carros da Ford australiana em catálogo de cores de 1929. Destaque para o "Sport  Rodster"  vermelho "Corinthians". Os cupês tinham a opção de um banco suplementar apelidado aqui de "banco da sogra" em lugar de espaço para a bagagem.
Chrysler Airflow Imperial, um dos pioneiros no estilo stremliner que não ganhou a simpatia do público da época, em versão sedan para seis passageiros no catálogo de 1936. O terceiro volume ganha uma porta à parte para facilitar o embarque e desembarque de bagagens e carga.  
Cadillac Sixtie: empresa americana cunha o termo "notchback" para vender a nova carroceria de três volumes bem definidos. Na época a marca americana era sinônimo de luxo e de inovação mecânica e estilística e também referência para os produtos da GM e dos concorrentes.
Buick 51 do catálogo de 1946. Acima a versão conversível de quatro lugares e abaixo o sedan de 4 portas. Note como  o porta-malas está mais alto e com menos caimento que os modelos fast-back, e assim tendo um ganho importante de espaço no compartimento de bagagem.
Cadillac Fleetwood do mesmo ano em carroceria "notchback". A marca introduziria anos mais tarde o "rabo de peixe", tendência estilística que foi uma "coqueluche" na época.

Chryles Tow & Country mostrando a sua versatilidade "aventureira". A carroceria de madeira foi uma tentativa de economizar o aço, caro e escasso, no pós-guerra. Detalhe para o rack no teto, solução pouco usual para os carros da época e só visto somente em utilitários.

Chrysler Windsor, sedan de duas portas mostra algumas tendências estilísticas que seriam regra nos próximos anos, como as janelas panorâmicas. O porta-malas está maior e mais comprido e ainda não estava escondido pelas aletas traseiras que seriam moda.
Propaganda da Ford para o seu modelo standard de 1953. Nota-se que as lanternas traseiras ganham forma de turbina e os paralamas traseiros estão mais discretos, agora sendo apenas mais um detalhe estilístico.
Pontiac Star Chief 1958 mostra como os carros americanos ficaram mais largos, baixos e compridos chegando a quase 6 metros de comprimento, além de todos os exageros estilísticos da época como os para-brisas panorâmicos dianteiros e traseiros. Porta-malas ficaram cada vez mais compridos e com pouco espaço na vertical.
O compacto (para os americanos) Ford Falcon de 1961 ganha inusitada ajuda do personagem Snoop para mostrar o tamanho reduzido do carro. O desenho está mais sóbrio e os motivos aeronáuticos se resumem a um detalhe estilístico e no discreto acabamento lateral que acompanha o formato da lanterna traseira.
Holden Premier 1964, modelo do braço australiano do grupo GM mostra a sobriedade e discrição no desenho do modelo, ao contrário da revolução cultural e artística que ocorria naquela época. A tampa do porta-malas desce até quase a linha do para-choque.
Oldsmobile Toronado: o carro que quebrou o paradigma de que tração dianteira era somente para compactos anêmicos em modelo de 1979: desenho quadrado e mais compacto era a resposta para as sucessivas crises de petróleo que tornavam caro o combustível.
Alfa-Romeo 155 de 1993: Tendencia iniciada no fim dos anos 80 eleva a altura dos porta-malas para ganhar mais espaço para a bagagem, à custa da visão de ré. Os carros ganham desenho mais arredondado e melhor eficiência no packaging, com mais espaço para os passageiros, bagagem e sem aumentar o tamanho do veículo.
Dácia/Renault Logan, que adota a solução inteligente de aumentar o entre-eixos para ganhar espaço interno de médio em tamanho compacto. Porta-malas alto assegura capacidade de carga semelhante à de peruas (se não passar da linha das janelas) e tampa "curta" é tendência atual.
Audi A8 em modelo de 2008 e na abertura do artigo Bentley Mulsane lançado no ano seguinte, porta-malas curto e com "caída" dão formato de estilo quase fastback, mas sem comprometimento do espaço de bagagem, tendência para sedans grandes e de luxo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário