Transportar milhares de pessoas com segurança todos os dias é a principal atribuição dos motoristas de ônibus. Além de comandarem a direção, eles são os responsáveis por receber e instruir os usuários durante o trajeto. Primordiais ao funcionamento das cidades, esses profissionais são os protagonistas desta edição da série “De carona”, produzida pela Perkons para destacar os desafios dos trabalhadores cuja função está, diretamente, envolvida com o trânsito.
Para se ter ideia da relevância da classe, de acordo com levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU), 34,4 milhões de passageiros utilizam o serviço no Brasil todos os dias. Apenas para atender a demanda da cidade de São Paulo, cuja população gira em torno de 11 milhões de habitantes, são cerca de 15 mil ônibus em operação, em aproximadamente 1300 linhas. Para operá-los, são necessários mais de 32 mil motoristas. Segundo dados do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), esses veículos transportam perto de seis milhões de pessoas, todos os dias. Em 2016, foram transportados 2,9 bilhões de passageiros nos coletivos urbanos da capital.
Para o presidente do SPUrbanuss, Francisco Christovam, o papel desempenhado pelos condutores de ônibus é tão relevante que os coloca na posição de “embaixadores” do serviço de transporte. “Esses profissionais têm o contato direto com os viajantes e, por isso, precisam não só de treinamentos voltados à direção segura, defensiva e econômica, mas também de urbanidade. Por outro lado, merecem ser tratados com civilidade pelos usuários, já que são eles que garantem um dos direitos fundamentais: o de ir e vir”, destaca.
Esse tratamento respeitoso, do ponto de vista de Christovam, deveria ser estendido às ruas, com uma pista da via urbana destinada exclusivamente à circulação do transporte coletivo, por exemplo. “Assim, esse profissional não precisa se preocupar com os demais veículos e reserva sua atenção ao trajeto e às paradas. Em São Paulo 70% dos acidentes de ônibus são provocados por terceiros e não pelo motorista do transporte coletivo”, completa.
Mais da metade dos motoristas classificam profissão como desgastante
Para ser condutor de ônibus é preciso ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) habilitada nas categorias D e E, além de passar pela capacitação para motoristas do transporte coletivo exigida pelo Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN). De acordo com a legislação que dispõe sobre o exercício da profissão de motorista, os profissionais à frente de coletivos podem dirigir durante oito horas, prorrogáveis por mais duas, desde que haja intervalo mínimo de 30 minutos.
De acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) realizada em dezembro de 2016 com 1.055 motoristas de ônibus, em 12 Unidades da Federação de todas as regiões do país, 70,6% afirmam que gostam de dirigir ônibus urbanos e 33% dizem que essa profissão oferece um salário melhor do que outras. Entre os pontos negativos, 57% destacaram que a profissão é desgastante, estressante ou fisicamente cansativa. Outros 35,9% consideram uma profissão perigosa e 19,8%, arriscada, devido à possibilidade de acidentes. Em relação à segurança, quase um terço (28,7%) diz ter sido vítima de assalto pelo menos uma vez nos últimos dois anos, enquanto 33,2% revelam ter se envolvido em pelo menos um acidente no mesmo período.
Mesmo com os treinamentos constantes e toda a responsabilidade que o condutor de coletivos precisa ter para zelar pelos usuários, nem sempre a profissão é encarada com respeito e seriedade pela população em geral, o que compreende também motoristas de outras categorias. Essa é a opinião de Nivaldo Aparecido Araujo, que há 18 anos está atrás do volante no Grupo Gatti/Gato Preto, de São Paulo. “Somos os principais responsáveis pela segurança dos passageiros e, para isso, também cuidamos do veículo verificando pneus, parte elétrica e limpeza. Nossa atenção é exigida desde a hora que nos apresentamos na garagem, muitas vezes de madrugada, e inclui estar alerta a passageiros que porventura possam causar problemas dentro do coletivo, sem contar a cautela para não se envolver em acidentes”, acrescenta.
Além da segurança, a atenção aos clientes também é uma das metas diárias de Edna Silvana Carvalho, motorista da Transporte Coletivo Glória, de Curitiba, há quatro anos. Admitida como cobradora, ela se inscreveu no programa interno da empresa e, desde o início, demonstrou interesse em ser promovida à motorista. Já com a CNH adequada à atividade, iniciou o treinamento, fez o teste e foi aprovada. “Entrei na empresa com o intuito de ser motorista. Eu sabia que tinha capacidade. Além disso, é uma carreira de mercado amplo e sempre haverá emprego. Eu procuro sempre ter paciência, principalmente com cadeirantes e idosos”, finaliza.
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