quinta-feira, 2 de junho de 2011

Cuidado, você está sendo observado!

Sentir-se vigiado e ter os passos controlados. Essas já não são mais prerrogativas de quem se encontra encarcerado; tornaram-se prática comum da sociedade moderna. No supermercado, na escola, no elevador, no ambiente de trabalho, enfim, onde menos se espera, lá está o aviso: ‘sorria, você está sendo filmado!’.
A fórmula é tão engenhosa que transpôs barreiras e hoje faz sucesso no horário nobre da televisão – são os conhecidos reality shows, que atraem milhões de espectadores ávidos por descobrir o mais íntimo de seus segredos. Câmeras estrategicamente posicionadas captam as reações dos participantes onde quer que estejam, reprimindo, mesmo que inconscientemente, atitudes espontâneas.
Esse comportamento artificial é explicado por outro mecanismo, que já existe há mais de dois séculos e, certamente, teve sua parcela de contribuição para a criação desse tipo de programa. O panóptico, idealizado pelo filósofo e pensador utilitarista Jeremy Bentham, consistia em um padrão de construção civil com características bastante funcionais.
Era um edifício circular com várias celas, cujo centro abrigava uma torre de controle em que o inspetor via tudo, mas não era visto. Dessa maneira, não havia necessidade de vigilância em tempo integral, afinal, os presos se sentiam vigiados mesmo quando não estavam sendo, de fato, observados.
Atualmente, nota-se que o olhar da vigilância está descentralizado, transcendeu os muros e se estendeu à toda a sociedade, por meio da “Tecnovigilância”. Este fenômeno é conhecido como panóptico invertido.
O uso de câmeras, lombadas eletrônicas e outros dispositivos de fiscalização no trânsito, cuja intenção é inibir o comportamento irresponsável de muitos motoristas, ganha respaldo no panóptico. Nesse caso, ao perceber que estão sendo vigiados, os motoristas mudam de comportamento e, por consequência, respeitam as leis.
Não há qualquer constrangimento em admitir que, ao pisar no freio, ele (o motorista) está evitando a multa, e não a ocorrência de um acidente de trânsito. A preocupação, que deveria ser com a preservação da vida, é meramente financeira. Por este motivo, defendo que os “radares” não devem ser sinalizados; quando muito deveriam apenas indicar que a via é fiscalizada. É preciso que o condutor se sinta o tempo todo vigiado para não pisar no freio somente no ponto do equipamento e acelerar depois.
Dito isso, torna-se evidente uma patologia social que só deve ser extirpada no longo prazo, por meio de ações efetivas baseadas na educação para o trânsito. A conscientização de crianças, atuais pedestres e futuras motoristas, com informações e noções de respeito ao próximo, deve ser a responsável por reverter essa situação. Enquanto isso, vale lembrar, é cada vez mais difícil se esconder no anonimato. Por isso, cuidado, você está sendo observado! (José Mario de Andrade é diretor da Perkons – empresa especializada em tecnologia para a segurança e gestão integrada de tráfego)

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